terça-feira, 12 de junho de 2007

Acelerado.


Um balé surrel de imagens. E o que mais você espera que possa ser dito sobre algo assim definido?

O movimento da cidade, o movimento do homem, o movimento da cidade no homem, do homem na cidade. Cada um em seu tempo. Cada um seu mais interligado gesto.

De quantas formas você poderia olhar cada um desses passos? Você conseguiria acompanhar essa seqüência de movimentos?

Bom, um barquinho de papel consegue acompanhar toda essa tempestade de idéias, embora, com dificuldades de equilíbrio. Em contrapartida, dança como uma água-viva ao mar, uma graciosa bailarina, ou melhor, um bailarino barbudo. (Ou não. Os dois e um só. Enfim, Não importa qual o sexo. Importa é como ele consegue ser leve no meio de tanta euforia). Aqui já não há dificuldades de equilíbrio, mas uma grande beleza vista de baixo para cima.

E o que é real nesse balé? Que sentido tem nisso tudo? A busca pela explicação, talvez, seja a outra grande crítica desse filme de René Clair. O manifesto é ser ilógico, absurdo, irônico para “denunciar” a grande aceleração do mundo, o ritmo sem freios dos acontecimentos. Questionar a importância da narrativa que precisa de personagens, ordem, linearidade.

Um balão dança na água, você tentar acertar-lo, ele te ilude com vários reflexos, sombras de si. Você tenta e tenta, até que finalmente consegue e liberta o pássaro preso no balão, faz nascer sua própria liberdade. E esse crime você terá que pagar com sua própria vida.

E todos dançaram, ora pretos, ora brancos atrás de seu caixão. Mas... Você insiste em se libertar. Até da tua própria morte foges.

Correm atrás de ti.

É nesse momento que mais consegues ver tua cidade. Fugindo da morte percorres todos os caminhos de tua lembrança e da tua esperança.

Correm, ainda, atrás de ti.

Acabamos sempre entrando na montanha russa do nosso destino. Nosso maior labirinto giratório. Nosso limite de horas.

Ainda, correm atrás de ti.

Não cansamos de tanta velocidade. Invertam a ordem. Só não mudem esse ritmo que não chega ao ápice. E sempre deseja ser mais veloz e sem-fim.

Correm atrás de ti, ainda.

Já não enxergamos mais nada além de milhares pontos. “Reduzidos às manchas disformes”. Nossa rotina, nossa vida, nossa morte, nosso progresso e desenvolvimento, são tão intensos e rápidos que só enxergamos pontos e imagens perdidas num tempo mais acelerado que o nosso.

Até que você percebe que não adianta mais fugir, então, você cai e se liberta.

E essa é nossa grande mágica. As coisas aparecem e desaparecem em alguns instantes. Inclusive, você.

No final de nossa apresentação, talvez, seja a música quem dite tudo. Quem componha tudo. O movimento da cidade, o movimento do homem, o movimento da cidade no homem, do homem na cidade. Cada um em seu tempo. Cada um seu mais interligado gesto.

Ela seja o sentido. Os atos e os “entre atos” de nossa dança.

...


(Texto que escrevi sobre o filme Entreato (Entr'acte), de René Clair, do ano de 1924. Essa belíssima e importante experimentação para o mundo do Cinema tem um pouco mais de 20 minutos e pode ser encontrada no Youtube)

...



{Ouvindo: The Smiths - Is It Really So Strange?}


3 comentários:

Gell disse...

Marílha, tão desperta, trazendo suspiros, você por aqui? Me vejo nesse teu silêncio, quase desperto, que sabe sem saber! A essência de se deixar ser =) muito feliz ahiuhaiuahiuahauah é Angélica que vos fala! Beijos linda =*

SOUZA VIANA disse...

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Meu amor, é como eu disse: vc tão longe e tão perto do mundo, conseguiu mais que trazer sentimentos à nossa velocidade caos-mopolita; trouxe sentimentos múltiplos à pós-modernidade!

Amo!

*=

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● My Queiroz disse...

fiquei com vontade de assistir.

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