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..-E eu nunca mais vou sentir tuas pernas, meu Taludinho.-E eu não verei a sua costa,Blackinha.-Você fazia parte dela. Você não sabia de nada. Eu nunca deixei você ver mais. Tinha medo. Tinha vergonha.-Não importa mais. Vi o que pude. Vivi.-Queria você ao meu lado ao menos por mais um dia. Mostraria-te.-O tempo foi injusto contigo. Já não há tempo, preciso ir.-Ele me deu pouca chance.-Ele deu chance sim. Você que tinha medo, como você acabou de falar.-"Deixe-me ir, preciso andar... vou por aí a procurar"-Isso!Escuta todos aqueles sambas que não cantei para ti. Ouve tudo aquilo que te mostrei. Não esqueça de mim.-Não esquecerei. Em todo carnaval vou lembrar. Em todo trombone vou lembrar. Em todo Hermeto vou lembrar. Em todo sopro...-Só não vale tristeza.-Só não vale ser tão cedo. Ainda tinha tanta coisa. Você não verá minha costas.-Cedo. Não sei o que falar sobre isso.-Não consigo e não quero acreditar que você está indo embora... Eu vou sentir muita saudade! Muita!-Vou sentir saudade, também. Sentir de muita coisa. Ou talvez, nem lembre de mais nada para sentir saudade. Eu sei que essa viagem me fará muito bem.-Quero chorar. Abraça-me?-Claro! Mas... não quero ver você chorando.-Então, eu escondo meu rosto em teu corpo, assim não vais me ver.-Corpo? Esquece! Tenho que ir, lembre-se de fazer o que você queria.-Quando eu conseguir fazer, eu vou lembrar você. Quantas vezes você não ouviu meu desejo?-Desde que nos conhecemos.- Eu te amo. Eu te amo.-Minha hora chegou. Fica bem, certo? Se você ficar mal eu não vou conseguir ir tranqüilo. Promete que vais ficar bem?-Prometo. Eu te amo.- Ô, minha Blackinha...manhosa...
Ele vira e vai caminhando em direção ao seu trem. Ela o olha para última vez, depois se olha no espelho da estação primeira. Volta o olhar para o caminho do trem e não o encontra mais. Não consegue mais ver um rastro dele em qualquer parte. Ela corre pelo caminho que ele deveria fazer. Quantos espelhos... quantas pessoas. Uma zoada.
-"Cade ele? Sei que ele ainda não entrou no trem. Impossível. Ele ter sido tão veloz, eu só tinha virando o rosto para ver meu reflexo".
Ela não sabe o que faz. Sem reação, ela se encosta na parede da estação, e sente o frio passar por todas as partes do seu corpo, se deleita com isso e senta. Fica sentada, olhando as pessoas partirem, voltar, se encontrar, se abraçar, beijar, chorar, cantar...
Acha engraçado como essa grande movimentação acontece e ela está tão parada.
Tão estática e com frio, que ninguém notaria, ao menos, sua respiração... Nem ela mesma...
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