sexta-feira, 6 de julho de 2007

Imaginário do depois.

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-E eu nunca mais vou sentir tuas pernas, meu Taludinho.
-E eu não verei a sua costa,Blackinha.
-Você fazia parte dela. Você não sabia de nada. Eu nunca deixei você ver mais. Tinha medo. Tinha vergonha.
-Não importa mais. Vi o que pude. Vivi.
-Queria você ao meu lado ao menos por mais um dia. Mostraria-te.
-O tempo foi injusto contigo. Já não há tempo, preciso ir.
-Ele me deu pouca chance.
-Ele deu chance sim. Você que tinha medo, como você acabou de falar.
-"Deixe-me ir, preciso andar... vou por aí a procurar"
-Isso!Escuta todos aqueles sambas que não cantei para ti. Ouve tudo aquilo que te mostrei. Não esqueça de mim.
-Não esquecerei. Em todo carnaval vou lembrar. Em todo trombone vou lembrar. Em todo Hermeto vou lembrar. Em todo sopro...
-Só não vale tristeza.
-Só não vale ser tão cedo. Ainda tinha tanta coisa. Você não verá minha costas.
-Cedo. Não sei o que falar sobre isso.
-Não consigo e não quero acreditar que você está indo embora... Eu vou sentir muita saudade! Muita!
-Vou sentir saudade, também. Sentir de muita coisa. Ou talvez, nem lembre de mais nada para sentir saudade. Eu sei que essa viagem me fará muito bem.
-Quero chorar. Abraça-me?
-Claro! Mas... não quero ver você chorando.
-Então, eu escondo meu rosto em teu corpo, assim não vais me ver.
-Corpo? Esquece! Tenho que ir, lembre-se de fazer o que você queria.
-Quando eu conseguir fazer, eu vou lembrar você. Quantas vezes você não ouviu meu desejo?
-Desde que nos conhecemos.
- Eu te amo. Eu te amo.
-Minha hora chegou. Fica bem, certo? Se você ficar mal eu não vou conseguir ir tranqüilo. Promete que vais ficar bem?
-Prometo. Eu te amo.
- Ô, minha Blackinha...manhosa...



Ele vira e vai caminhando em direção ao seu trem. Ela o olha para última vez, depois se olha no espelho da estação primeira. Volta o olhar para o caminho do trem e não o encontra mais. Não consegue mais ver um rastro dele em qualquer parte. Ela corre pelo caminho que ele deveria fazer. Quantos espelhos... quantas pessoas. Uma zoada.

-"Cade ele? Sei que ele ainda não entrou no trem. Impossível. Ele ter sido tão veloz, eu só tinha virando o rosto para ver meu reflexo".

Ela não sabe o que faz. Sem reação, ela se encosta na parede da estação, e sente o frio passar por todas as partes do seu corpo, se deleita com isso e senta. Fica sentada, olhando as pessoas partirem, voltar, se encontrar, se abraçar, beijar, chorar, cantar...


Acha engraçado como essa grande movimentação acontece e ela está tão parada.

Tão estática e com frio, que ninguém notaria, ao menos, sua respiração... Nem ela mesma...

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2 comentários:

Marília Amorim disse...

Eu só queria poder estar com todos que eu amo bem juntinho de mim agora.
Todos juntos por um tempo.
Dizer que amo todos.

Ofélia disse...

moça imensamente bonita sente agora um abraço bem apertado. daqueles que ficam mesmo quando a gente se solta. um beijo.

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